segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Post batoteiro

Sempre atenta ao que realmente interessa, a Menina Alice já avisou que, em Monsanto, as amendoeiras começam a corresponder aos primeiros raios de sol e a entrar em competição com as sempre apressadas azedas.

Ainda não tive vagar, nem material fotográfico para regressar a esse pedaço de verde tão perto de mim. Mas, para emprestar um pouco de cor a este blogue, que dela anda bem precisado, incorro no pecado da repetição e repesco este post de 2008. Estávamos em Março e Monsanto rezava assim:

(Parece que o foto-buquê está a armar-se em esquisito. Cliquem aqui se não conseguirem ver o slideshow abaixo.)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um raio de sol

... para desenjoar de tanto fel:


Carregai aqui, carregai.

Esta mulher não falha. (Música: «I Can See Your Tracks», do novo e belíssimo July Flame, título inspirado numa estirpe daqueles pêssegos «especiais de corrida» pelos quais, em certo episódio do Seinfeld, o Kramer faz tudo para degustar.)

Pequenos ódios

Prosseguindo nesta temática tão saudável, enumero à laia de desabafo questínculas relativamente abstractas que fazem crescer dentro de mim uma irritação bem palpável. Gente com pés, braços e cabeça (aparentemente) funcionais para quem a vida, todavia, é um fardo a carregar sem o mínimo de criatividade ou alento. Continua, um dia destes.

domingo, 17 de janeiro de 2010

MLC vs Herman

Não será a forma mais saudável de começar o novo ano, repescando velhos ódios de estimação. Mas, sobretudo agora que já paguei a minha dívida à sociedade, arrumando a casa, não posso deixar de escrever uma pequenita nota sobre a «entrevista» da Marta Leite Castro ao Herman José, esta tarde no Só Visto.

Bem sei que estes encontros devem ser, tanto quanto possível, falhos de qualquer confrontação ou desconforto. Que tudo não passa de um grande, por vezes hipócrita, elogio da vida e obra (por muito irrelevante que esta, frequentemente, seja) de quem se senta na cadeira do convidado.

Mas, mesmo assim, custou-me ver como, quando o próprio Herman enveredava por assuntos «difíceis» (a referência velada ao envolvimento no escândalo da pedofilia, na menção à depressão da mãe; a admissão da queda de popularidade nos últimos anos), a Marta Leite Castro (já sabemos: olhos de Bambi, carinha de «não está ninguém cá dentro») chutasse para canto de forma praticamente insultuosa.

No primeiro caso, a intervenção foi cortada a talho de foice na edição (e musicada com um sonzinho alegre, como se a depressão da mãe e os processos judiciais fossem assuntos joviais). No segundo, a própria Marta Leite Castro se encarregou de cortar o discurso do entrevistado, referindo-se despreocupadamente às vozes que dizem que Herman perdeu a piada como «essas coisas parvas!», ou inanidade afim.

O pior de tudo ainda terá sido a única «provocação» que a rapariga lançou ao convidado. Vida pessoal? Orientação sexual? Desorientação profissional? Qual quê. «O IMBD diz que és o maior humorista de sempre em Portugal, concordas?». Ah, bela provocação! Nem sei como ele não ruborizou.

Posto isto, há que dizer que o Herman José foi, em tempos idos, um dos meus grandes heróis. E que ainda lhe tenho, provavelmente graças a esse passado glorioso, um carinho e um respeito residuais que, ingenuamente, me levavam a esperar mais da «entrevista». A culpa nem foi dele, apesar de tudo um homem astuto e inteligente, entrevistado carismático e exímio contador de histórias. Mas sim daquela que, quando ele se referiu aos jornalistas chatos que de tanto insistirem conseguem que lhes respondam às perguntas aborrecidas, o sossegou dizendo, entre risinhos: «Descansa que eu não tenho perguntas dessas!». Nem dessas, nem de outras. O vazio absoluto é cada vez mais constrangedor, dentro daquele shou e, pelo que se vê no mesmo, daquelas cabeças.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Alligator

Talvez o melhor texto que já li sobre o Alligator (e sabe Deus quantos já terei lido).

Da Stylus Magazine:

The NationalAlligator
Beggars Banquet, 2005

A telegram from midnight of the 21st century, recorded in the long shadows of 2004’s “Armageddon election,” these deceptively small snapshots tell a bigger story. As rock music slumped through middle age “Alligator” felt like an affirmation and a eulogy for the energy and optimism that had sustained it since the mid fifties. The characters Matt Berninger allusively sketches are little men – and they are always men – under enormous pressure. Different songs enact different reactions from the “fuck me and make a drink” desperate lust of “Karen” through the brooding nostalgia of “Daughters of the Soho Riots” and the denial and finally despair essayed in “Baby We’ll Be Fine”; never has a song with such a title been so ironic. The song’s anti-hero details the mundane strains of his life in nightmarish detail before collapsing in on himself with the line, "I don’t know how to do this… I’m so sorry for everything.”

Rock bands don’t apologise, it’s not in their nature, but the world has become so much harder. The National sound like the previous years’ garage rock revivalists beaten down by the sheer grey weight of life itself. The slower songs have a rich warmth to them, sympathetic strings sweetening the sorrow. When they come out on the attack it is not with the petulant passions of adolescence but the suicidal swagger of men with nothing to lose. The protagonists of “All The Wine" and “Lit Up” are pretty much beat, but they sure as fuck aren’t going down without a fight. It’s defeat, but a glorious one. And there, at the end is “Mr November”. Whilst a couple of years later the band would authorize “Mr November” T-shirts emblazoned with the face of Barack Obama it seems more likely the song is loosely inspired by John Kerry; the sixties fossil, once the hero now forced to admit he doesn’t quite know what to do. The sound is like a battle raging in thick fog; opaque violence. Though their side would eventually win through this is the sound of the optimistic, utopian spirit of rock under fire.

«When they come out on the attack it is not with the petulant passions of adolescence but the suicidal swagger of men with nothing to lose»

Nas imortais palavras do amigo Nuno Santos (ainda por cima, um sósia do Matt Berninger...), oh pá.

sábado, 2 de janeiro de 2010

2009 em meia dúzia de discos

Eu até gosto de listas: por toda a sua subjectividade, futilidade e inutilidade, tenho-lhes carinho. Mas confesso que, neste final do ano, já não aguentava a edição de mais um top com os melhores discos, canções ou fenómenos da temporada. Só para não dizer que não piquei o ponto, contudo, e porque há sempre duas ou três pessoas que gostam de saber quais os discos que mais ouvi, aqui ficam, de cabeça e sem ordem rigorosa, os álbuns que, nos últimos 12 meses, mais facilmente encontraram lugar no meu coração algo lotado.

Marcelo Camelo - Sou/Nós
Saiu em Janeiro e comecei a ouvi-lo ainda em 2008. Mas não há burocracia que resista a canções da laia de «Copacabana» (perfeita buarquice), «Menina Bordada» (a mais ternurenta do ano) ou «Tudo Passa». Sempre num Brasil sub-aquático e de aguarela, onde a voz não precisa de ser mais do que um veículo de doçura e honestidade.


Elvis Perkins - Elvis Perkins In Dearland
O primeiro disco, «Ash Wednesday», não era perfeito mas mostrava queda para as letras cuidadas e o estilo narrativo, num sonho sempre pop-folk. Em 2009, com «Elvis Perkins In Dearland» e uma banda a abarrotar de sopros, acordeões e outros arcaísmos, este moço tímido e vagamente místico fez aquele que é, provavelmente, o meu disco do ano. «I Heard Your Voice In Dresden» tornou-se, da primeira vez que a ouvi, a vencedora incontestável. Mas «Doomsday» e «Hey», como pudemos comprovar ao vivo nas eufóricas versões em Nova Iorque, ou a delicodoce «Hours Last Stand» (romance retro à moda de Richard Hawley) também se destacam num disco que é, à falta de melhor descrição, lindíssimo.



Edward Sharpe and the Magnetic Zeros - Up From Below
Metade «Elvis Perkins In Dearland», mas com um esgar mais burlesco e surreal, metade psicadélico-aguado, a fazer lembrar as valsinhas do Patrick Watson, eis a estreia do ano. Ao vivo parecem ser uma cambada insuportável de friques sem lâminas de barbear em casa, mas ouçam «Home» até ao fim (o diálogo ele-ela é das coisas mais adoráveis deste lado do calendário) e descubram a minha banda-revelação de 2009. Melhor música para andar de comboio, ponto.



Mayra Andrade - Storia, Storia
Lindíssima, inteligente e capaz de responder à aclamada estreia de «Navega» com um «Storia, Storia» de excelência. Não é Mayra Andrade quem quer, e esta miscelânea de África, (muito) Brasil e alguma Europa rendeu a 2009 algumas das suas canções mais perfeitas, de perfumadas e requintadas, mas sem nunca perder o Norte ou a autenticidade. O tema-título, «Carrossel», «Joana»... a navegação é segura e prazenteira, da primeira à última faixa.



Neko Case - Middle Cyclone
Há pelo menos três álbuns que esta mulher faz canções com iguais doses de garra, delicadeza e caneta nos sítios certos. «Middle Cyclone» tem tudo: fôlego conceptual, a fidelidade às causas do costume (Natureza, corações partidos), canções de bradar aos céus («This Tornado Loves You», «People Got a Lot of Nerve») e Aquela Voz. Mesmo que um dia falhe, irei ficar do seu lado. Mas ainda não foi desta, Neko.



Sean Riley and the Slowriders - Only Time Will Tell
Em 2009, já não se aplica - ou não devia aplicar - o chavão do «ao nível do que se faz lá fora» para elogiar discos feitos no rectângulo. Mas quando uma banda do eixo Coimbra-Leiria faz, apenas ao segundo álbum, uma obra que tranpira América por todos os poros, é inevitável que o mencionemos. Independentemente da origem, «Only Time Will Tell» é tão simplesmente um dos melhores conjuntos de canções que ouvi em 2009. «Walking You Home», «Houses and Wives», «Hold On», «Buffalo Turnpike» e muitas mais falam por mim.



Também no Quadro de Honra:

Arctic Monkeys - Humbug: o que perderam em apelo juvenil, ganharam em charme negro e serpenteante. Só por «Cornerstone», a melhor combinação de música + vídeo + vocalista amoroso do ano, mereciam uma menção.



Mark Eitzel - Klamath: não vou tão longe como a Uncut, que o considerou o melhor disco a solo do barbudo, mas se formos a ver bem está aqui tudo o que é preciso: a voz dele, algumas óptimas canções («Blood On My Hand», «I Miss You»...), a voz dele. Não lhe peço mais nada: só que regresse a Portugal, para poder vê-lo em concerto pela sexta vez. Porque é em palco que ele é ainda maior.



VA - Dark Was The Night: um dos raríssimos casos em que a música é tão boa como a intenção. Na compilação dupla com fins beneméritos posta a andar pelos manos Dessner está não só a fina flor do indie americano dos anos 00, como a melhor canção dos National em algum tempo, «So Far Around the Bend». Mais uma vez, não lhes peço mais nada.



Norah Jones - The Fall: há duas formas de interpretar esta minha escolha. Ou estou realmente a deixar-me envelhecer ou esta moça fez o disco certo para a minha altura errada. Lânguido e indeciso entre o derrotismo e a luta, soube-me que nem ginjas e palavra que gostava de aplaudi-lo ao vivo.



Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!: dispenso as «canciones lentas», como diria o Mike Patton em Santiago do Chile na digressão do King For a Day... Mas ligados à electricidade, em «Zero» ou «Heads Will Roll», os Yeah Yeah Yeahs salvam a cara do «novo rock» durante mais uns meses. Salvé, Karen O.



JP Simões - Boato: um disco ao vivo, é verdade, mas talvez um dos melhores que o homem dos Belle Chase Hotel e Quinteto Tati já lançou. As canções clássicas, a elegância e o estilo, a voz impecável, vários inéditos «perdidos», o Brasil ao fundo - está tudo aqui, concentrado e inadulterado numa actuação sem espinhas.



Minta - Minta and the Brooktrout: Ela, Francisca Cortesão, não nega a inspiração de cantautoras de estampa internacional como Laura Veirs, mas há nesta moça, que eu já trazia debaixo de olho desde o EP «You», bem mais do que isso. Há uma voz, para começar, bem firme e madura; há um universo (introspectivo e confortável) e há canções como «Large Amounts», digna de figurar em qualquer compilação de melhores do ano.



Para acabar de vos moer o juízo, deixo ainda os discos de 2008 que não abandonaram o meu leitor de MP3 em 2009 (ou porque só os descobri este ano, ou porque simplesmente não fui capaz de separar-me deles):

Department of Eagles - In Ear Park: talvez o disco que mais ouvi este ano. Mas quem é que precisa dos Grizzly Bear quando um dos homens dessa banda querida dos fazedores de opinião tem um projecto paralelo desta categoria? É algo que me escapa - basta-me ouvir as três primeiras cantigas do «In Ear Park» para me sentir transportada para outra realidade qualquer, cortesia daquelas cordas e vozes oníricas. E eu nem sou nada dessas mariquices.



The Walkmen - You and Me: um clássico do amuo, do descontrolo emocional, da ânsia de explosão. Um clássico do meu 2009, portanto. Felizmente ainda os consegui ver uma segunda vez com este disco, ainda que sob o sol impiedoso do Verão lisboeta, pouco adequado a canções como «In The New Year» (um clássico dentro do clássico, por assim dizer).



The Acorn - Glory Hope Mountain: garotos do Canadá contam a história da mãe do vocalista: uma complicada fuga das Honduras que, em canções como «Crooked Legs», soa comovente mas sempre muito doce e cheia de amor. O melhor disco para trabalhar e o melhor de uma estirpe de pop-folk onde incluo os Noah and the Whale, os Mumford and Sons ou os Fanfarlo...



Firekites - Bowery: O disco que os Kings of Convenience deviam ter feito este ano? Não desgostei do «Declaration of Dependence», mas estes novatos australianos comunicaram comigo de forma diferente: com mais verdade e vontade, talvez. «Last Ships» foi uma das músicas das minhas primeiras férias do ano, já íamos em Setembro...



E ainda: Alela Diane (Alela & Alina), John Vanderslice (Romanian Names), Norberto Lobo (Pata Lenta), Andrew Bird (Noble Beast), M Ward (Hold Time), Tiguana Bibles (Child of the Moon EP), Mazgani (Tell The People EP), Bat For Lashes (Two Suns), Noah and the Whale (The First Days of Spring).

Bom 2010 a todos!

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