quinta-feira, 30 de agosto de 2007

TV Cabo

Não é todos os dias, nem todos os meses, nem mesmo todas as décadas que eu elogio um anúncio. Mas o novo reclame da TV Cabo (a um serviço qualquer cujo nome me escapa) parece-me muito bem: uma senhora refastelada no sofá, a explicar como recebeu na caixa do correio uma treta que lhe permite ter uma data de novos canais. «E agora posso dedicar-me ao meu desporto favorito: o zapping!», regozija ela no final, alapando-se toda consolada.

Muito bem, repito. Uma alegre e bem-vinda excepção num mundo publicitário em que as mulheres são retratadas como super-heroínas no mínimo e deusas com oito braços no máximo: põem a casa a brilhar, são as maiores no seu local de trabalho, tomam conta dos sobredotados filhos, vestem o 34 até aos 50 anos, acolhem animais abandonados e, no tempos livres, salvam o mundo do apocalipse.

Mulher + sofá + televisão = parece que não, mas tem a sua importância a difusão desta bonita mensagem.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cotidiano

Tem dias em que eu acho essa a melhor música alguma vez escrita (*).





(*) - frase escrita em «brasileiro», para melhor adequação à música.

Mitras em Algés

À saída do comboio, uma destas tardes, passo por dois mitras (relativamente asseados e ajeitadinhos) que conversam na plataforma da estação.

A uma pergunta que não ouço, responde um deles:

«Não, agora estou com pena suspensa. Vou ter outro julgamento e depois se calhar tenho de voltar», expõe com calma o sujeito de t-shirt cor-de-rosa com brilhantes. Ao pescoço, e suponho que à laia de acessório, traz um terço de plástico branco.

Josh Rouse

O Josh Rouse é um dos meus escritores de canções favoritos.

Não é desafiante, como dizia e bem um «comentador» da Amazon; não muda praticamente nada de álbum para álbum; fala quase sempre dos mesmos assuntos (assuntos do coração, geralmente). Mas com invejável regularidade (12 meses entre cada disco, mais coisa menos coisa) apresenta a sua colecção de canções novas e eu muito raramente não me deixo convencer. Pelo menos uma «peça» ou outra vem sempre parar ao meu armário mental.

Desde que veio para Espanha, viver com a namoradita, o homem está cada vez mais meloso e sentimentalão. Até já faz EPs com a muchacha, que participa também no novo álbum, "Country Mouse City Mouse". Mas como hei-de eu dizer que não a músicas como «London Bridges», que se me abstrair do calendário me soa tanto ao álbum "House" como a «Directions» ou a «Laughter»? É bom ter um pedacinho de 1999 no meu 2007.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Regresso às aulas

Aparte não ter dormido quase nada e ter acordado com formigas no quarto, foi com boa disposição que encarei, esta manhã, o regresso ao trabalho. Escusava era de ter apanhado, no autocarro, com três ou quatro pequenitos delinquentes juvenis, que de Benfica até Algés passaram todo o tempo a «falar» entre si aos gritos (literalmente aos gritos - a manterem aquele volume, chegam ao meio-dia sem voz) e a jogar jogos da bola em pequenas consolas.

«WEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!», ouvia-se a certa altura. Uma espécie de silvo agudo ininterrupto e sem fim à vista, como aquele que, nos desenhos animados, precede a queda estrondosa de um piano na via pública, por exemplo. Mas aqui, na vida real, o som não terminava nunca, antes era interrompido, aqui e ali, por comentários da laia de «eh eh, isto é alto som!», «é o som da disco!!» ou «olha tudo a pedir réplei!». «WEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!».

Nem os White Stripes nem os Queens of the Stone Age, no meu acagaçado leitor de mp3, foram capazes de abafar este xinfrim. É nestas alturas que eu peço a Deus uma (ou mais) das três coisas que passo a enunciar:

1) calma e discernimento para concluir que, apesar dos modos paleolíticos, aquelas criaturas até são, lá bem no fundinho, dignas de respirar o mesmo ar que os restantes ocupantes do 29

2) um vozeirão de meter medo, para os mandar calar de forma convincente

3) um lança-chamas

domingo, 26 de agosto de 2007

EPC

A razão é a pior possível, mas a capa da edição de hoje do Público (inclui cabeçalho) está fenomenal.

sábado, 25 de agosto de 2007

Uma sugestão

Se vos está a apetecer um disquinho de música íntima e quieta, onírica mas ligeiramente sub-aquática, experimentem este «Close To Paradise» de um rapazito canadiano chamado Patrick Watson. Tem-me feito confortável companhia, nos derradeiros dias destas férias quase outonais.



(o moçoilo, que descobri através do fórum sons, é comparado à pandilha do costume: Jeff Buckley, Andrew Bird, coiso. Mas eu, que até costumo desconfiar dessas enésimas aproximações ao modelo de «songwriter inspirado», acho que há aqui mais qualquer coisa - a começar pelos instrumentais ao piano, como «Mr. Tom», ou pelo ambiente enevoado de todo o disco)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

National

Três notas breves sobre os National (não dá mesmo nada de jeito na televisão).

- «Cherry Tree», o tema-título do EP que antecede o colossal Alligator, é música para rasgar roupa a meio de um acesso de raiva mas sem perder os modos. «Can we show a little discipline» = pura classe.

- Os National fazem-me pensar em duas bandas que adoro e que nem por isso lhes costumam ser muito associadas (percebo porquê: não são assim tão parecidas) - os American Music Club e os Afghan Whigs. Assim de repente, acho que é o álcool que as liga.

- Os National são uma das minhas bandas favoritas desde há muitos anos porque - acho eu que é esse o segredo - a sua essência é algo que eu tenho dificuldade em fazer mas que por algum motivo as pessoas acham que faço muito bem: lidar com a pressão/tensão.

Espero que a TVI me dê um bom filme mau, ou ainda cá volto hoje para contar a história da minha vida.

TV vs Net

Demoro muito mais tempo a adormecer quando vou para a cama depois de navegar na net, do que depois de ver televisão. Filmes tolinhos e programas mentecaptos são o ideal para me pôr a caminho do vale dos lençóis: sinto todos os departamentos do meu cérebro a fechar-se. «Detector de ironia», até amanhã! «Raciocínio lógico», vou indo! «Procura de sentido», boas noites!... Acho que o que impede que isso me aconteça com a net é a interligação, on line, entre todos os conteúdos e ideias, que fica a marinar na minha cabeça muito depois de a ter pousado na almofada.

Vizinhos

Gosto da ideia de vizinhança, mais afectiva do que geográfica ou normativa. Acho que já falei disto aqui há atrasado... Enfim. Há um ano encontrava um «vizinho» de Ermesinde em Nova Iorque, agora dou as boas-vindas a Monsieur JB e ao Ombro do Seu Cão. Somos vizinhos de vício, por exemplo.

Mitrassexuais

Numa amadora tentativa de psicanálise caseira, concluí que é pouco surpreendente o facto de me deixarem nauseada os visuais de mitra / gunna e metrossexual.

Quer dizer, a minha primeira paixoneta - mediática, mediatizada e necessariamente platónica - foi este HOMEM:



(andava na escola primária, eu)

Sina

Suponho que haja muito boa gente a sofrer - e bem - com problemas de inveja.

Basta ler os panfletos do Professor Mambo ou do seu congénere Karamba: além dos dilemas de amor e questínculas de dinheiro, a inveja tem sempre lugar consagrado na lista de desgraças com solução à vista, em troca da remuneração certa.

A inveja, acho eu, nunca me aleijou particularmente. Aliás, não vejo grande razão para que alguém me inveje o que quer que seja (abro uma fugaz excepção para a foto uns posts abaixo, eu radiosa - ou radiante - com aquela banda que a gente sabe).

Hoje, porém, uma cigana alertou-me para uma situação que eu «tinha de» conhecer.

Levantou-se do banquinho em Belém para o qual eu, incautamente, me dirigia e tentou convencer-me a pagar-lhe, para que me lesse a sina. Declinei de 260 educadas formas mas ela não desistia.

«Não fica mais rica nem mais pobre por isso!», argumentava.

Mas se eu dizia que não tinha dinheiro, respondia que bastava ir ao multibanco: «São só cinco euros!».

Como teaser, e perante a minha resistência, abriu-me ainda os olhos para o que me espera. Eis o seu diagnóstico:

«É uma pessoa muito invejada!» (palmas para mim, que a isto consegui apenas rir, e não gargalhar. «E tem uma praga rogada em cima! Por duas mulheres suas inimigas [RISOTA] que lhe têm muita inveja!»

Será que este é o discurso-tipo, capaz de acertar de raspão que seja na vida de 99% dos potenciais fregueses?... Comigo não podia ter saído mais ao lado. Ao fim de uns bons cinco minutos, a senhora encolheu os ombros e foi rogar a sua pragazita para a beira das três ou quatro amigas que a esperavam no banco de jardim.

Há que dizer que, andava eu na faculdade, uma colega de ofício desta senhora me leu a sina por 200 paus e me prometeu «um casalinho» de filhos e um noivo «de farda».

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Dois Discos

Dois discos que não concebo que possam ser maus já moram cá em casa: o novo da Mirah, sobre insectos (calai-vos; é bom, de certeza) e o do Joe Henry, chamado Civilians.

A semana de férias caseiras dar-me-á tempo para confirmar estas suspeitas. Engraçado como, depois de um dura temporada de trabalho em festivais (Alive, SBSR, Dance Station, Sines/Porto Covo, Sudoeste, Paredes de Coura), a minha cabeça tem dificuldade em perceber se este regresso à base representa um sinal de férias ou de rearranque urbano-laboral.

Férias

Uma pessoa até pode fazer planos como «... amanhã vou levantar-me às oito da manhã para ir ao mercado comprar legumes» [ (c) LB, @ PdC ], mas do que valem as boas intenções se temos uma gata, geralmente arisca, que se enrosca e aninha em nós à mínima oportunidade, a ronronar em volumes proibitivos? As saudades eram mútuas.

Furacões

Eu percebo que, ao dar e escolher as notícias, a rapaziada dos noticiários se oriente pelo famoso critério da proximidade. Mas parece-me ligeiramente insuflada a importância que se dá ao facto de haver «turistas portugueses!» nos países por onde o Furacão Ivan se prepara para fazer estragos.

OK, é chato ver as férias interrompidas ou canceladas por causa de uma intempérie daquele calibre. Mas justificam-se tantas chamadas telefónicas, tantas esperas no aeroporto em troca de umas declarações perfeitamente banais? A Martini é que se fica a rir, com a repetida exposição televisiva dos gigantescos painéis que tem pespegados na zona das chegadas do aeroporto da Portela.

Pior do que os turistas (portugueses!) não estarão os empresários e habitantes dos países cujas infraestruturas ficarão, pelo menos a curto prazo, sem préstimo?

(O que vale é que para essas e outras causas sociais temos sempre gente como o garboso Gael García Bernal!)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Desabafo Pop

Nada contra as cantigas - mas estou um bocado farta desta cara de imitação de koala do Justin Timberlake.




Cromice ao cubo

... só para pôr termo ao meu périplo de insanidade (apesar de o concerto do Sudoeste ter ficado muito aquém dos meus sonhos - mas também, quem me manda sonhar estas coisas?).

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

domingo, 5 de agosto de 2007

Ainda os festivais

Duas espécies que me chateiam sobremaneira no contexto festivaleiro (eu, que trabalho até às cinco da manhã quatro dias seguidos sem me queixar):

- os miúdos que tentam à viva força entrar na zona vip (onde geralmente funciona a nada glamourosa área de imprensa). Não aceitam o vigoroso «não» dos seguranças e obstruem a entrada «de serviço» com as suas perguntas de quem, lamentavelmente, nunca levou um tabefe dos pais. «Mas porque é que eu não posso entrar? Mas porquê?». Pá, escavem um tunel com uma colher de iogurte. Quando acabarem, perceberão que não há nada para ver aqui dentro, a não ser gente que trabalha. Pá, até a Merche Romero entra pela porta principal, que eu vi.

- a rapaziada que se passeia pelo recinto com t-shirts alusivas à prática de sexo oral (com bonequinhos a imitar os sinais de trânsito, em posições sugestivas). Mas o que é que eles querem, afinal? Que as mulheres se ajoelhem à sua frente, dispostas a tudo? Até tinha graça isso acontecer - sempre queria ver com que cara ficariam esses tarados por t-shirts espirituosas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

SW até agora

O Sudoeste, até agora, vale por isto:



E pela Rita Carmo, claro, sem a qual esta e muito mais imagens não viriam, nunca, a luz do dia.

A Sul

Poucas horas volvidas sobre a minha chegada à planície alentejana e já tinha passado por todo o tipo de sensação que cobrir um mega-festival destes em trabalho implica. A saber (por ordem):

- ok, vamos lá
- isto faz-se
- eh pá, não
- quero ir embora, nunca mais é Domingo
- não, isto faz-se, isto faz-se
- até está a ser engraçado
- nem me estou a sair muito mal!
- dói-me os pés
- não me toques nas costas, /$%/(#"%~
- até que enfim
- já só faltam três dias

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A morte serve-se quente

Pode não ser muito simpático ou ecológico, mas matar formigas com o vapor do ferro de engomar (elas passeiam-se pela tábua, enquanto eu tento passar a ferro) tem a sua graça.

Tempos idos

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