quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Bebés

A reacção feminina à chegada ao escritório de alguém com um bebé ao colo é um clássico.

Estejam lá a fazer o que estiverem, levantam-se como se tivessem fogo no rabo para aclamar a criança, coitada, por momentos transformada num autêntico Menino Jesus, com sete ou oito mulheres em seu redor, a tagarelar e fazer as vezes de reis magos.

Não me interpretem mal: gosto tanto de bebés como qualquer nuvípara (aprendi esta quando fui fazer uma mamografia; acho que quer dizer «sem filhos»), mas não consigo ir cantar loas à cria de alguém que mal conheço (ou não conheço de todo, como acaba de acontecer).

Isto lembra-me duas coisas: o Ricardo Araújo Pereira a dizer que o sketch do Paulo Bento só foi visto por meio milhão de pessoas porque estas, no trabalho, preferem fazer «qualquer coisa» a ter de trabalhar; e o episódio do Seinfeld em que há um bebé particularmente horrendo. Todos fingem a reacção de encantamento («Ooooohhhh, que lindo!...»), menos o Kramer, que com os seus típicos tremeliques e convulsões denuncia, aos berros, a real aparência da criança (sosseguem os mais sensíveis: o bebé nem aparece, provavelmente dentro da mantinha estava um boneco).

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Sentados



Nesta bela foto, roubada à/ao Angua no Fórum Sons, não dá para perceber, mas o Ed Harcourt apresentou-se em Santa Maria da Feira com um casaquinho bordeau, que à distância parecia de veludo mas, visto de perto (eu cruzei-me três vezes com ele, na fila para a casa-de-banho) era de simples bombazine.

Gosto muito do Ed Harcourt, apesar de só ter ligado convenientemente aos seus dois primeiros álbuns. Acho que o senhor tem voz de chocolate quente com um cheirinho de uísque, e derreto-me com a) boa parte das suas canções b) o empenho e o carinho que coloca em palco, e que este ano pude, por fim, presenciar.

Em Lisboa, no pico do Verão, falei com o senhor antes de um concerto em que se revelou nervoso, ansioso, agitadíssimo - mas inspirado, e cheio de ideias para preencher as duas horas de espectáculo, perante pouquitas pessoas. Escrevi, na altura, que era bom que o autor da incomparável «God Protect Your Soul» pudesse acalmar e concentrar-se no seu serviço. Por incrível que pareça, julgo que foi o que aconteceu Sábado, lá nos Sentados. A audiência estava menos que calorosa, mas foi-se rendendo ao desejo, expresso pelo artista, de «turn this funeral into a wedding».

Um doce. E à terceira vez que nos cruzámos, lá o abordei para lhe dar os parabéns pelo sucesso do concerto. Ele achou que tinha corrido «ok» e confessou-se muito cansado. Estranhamente, garantia lembrar-se de mim: «You did the interview», recordou. Depois de, em Lisboa, ter cumprido a promessa de tocar o «God Protect Your Soul» por eu adorar a canção, eis que Ed Harcourt cimenta o seu lugar no meu Top de Simpatia 2006.

A seguir tocaram os Sparklehorse, de quem conheço e adoro, sobretudo, o álbum "It’s A Wonderful Life". Há quem diga que a banda (o Mark Linkous e uns amigos) estava em piloto automático, a fazer o frete de tocar para nós, mas sinceramente deram o concerto que me apetecia ver: não muito longo e com o cheiro a flores mortas e terra queimada que associo à sua música. Não sei porquê, mas a poupita no cabelo do Linkous esteve, durante todo o concerto, a ser ligeiramente levantada por uma corrente de ar (?) que não se fizera sentir na actuação anterior. E esse pormenor, mais a dolência ligeiramente doentia da música dos Sparklerhorse, fizeram-me sentir lá longe, no sítio de onde aquela gente e aquelas canções vêm, e onde eu provavelmente nunca estarei.

A Emiliana Torrini cancelou; foi pena, mas pergunto-me quando é que verei, nos sentados ou em qualquer outro evento nacional, as songwriters que realmente adoro. Pista para os promotores: a country nem sempre morde ou larga peçonha.

Para concluir: os casaquinhos bordeau dominaram as duas últimas semanas, na tela ou no palco (ver post sobre Ciência dos Sonhos). Começo a encará-los como garantia de qualidade.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A Ciência dos Sonhos

Depois de um camião ter caído na linha de comboios de Cascais, impedindo-me de chegar ao cinema a horas, na Segunda-feira, ontem também não foi fácil cumprir a promessa de ver "The Science of Sleep" quanto antes. Pensei que tinha boleia até chegar a casa e descobrir que, afinal, um mal entendido ia obrigar-me a apanhar um táxi até ao cinema. Corri rua abaixo para encontrar um dos taxistas mais lerdos dos últimos tempos: com a estrada por sua conta, em vez de acelerar, passeava-se pelas ruas de Lisboa, como se quisesse apreciar as vistas. Isto enquanto assobiava, linguita presa nos dentes, as músicas que iam passando na Rádio Orbital. Recordo com particular asco uma versão reggaeton para «I'm In Love With An Alien», da Kelly Family. Demorou eternidades a estacionar frente ao Corte Inglés e, apesar de lhe ter facilitado o troco (cinco euros), deu-mo em moeditas que foi sacar a um porta-moedas refundido. Vinguei-me deixando-lhe uma embalagem de compal no carro (recorde pessoal de maldade voluntária da minha parte. Mas acho mesmo que ele estava a gozar comigo).

Depois da história do camião, dizia eu então, parece que havia mesmo alguém "lá em cima" com pouca vontade que eu visse o novo filme do Gondry. Mas, contra tudo e contra todos (como diria o Pinto da Costa), consegui chegar à sala mesmo no começo do genérico. Duas horas depois, concluí que o alguém "lá em cima" tem (quase) sempre razão.

Desengane-se quem for à procura de um novo "Eternal Sunshine of the Spotless Mind". Elucide-se quem se tenha surpreendido com o facto deste filme só estar em duas salas de Lisboa. "The Science of Sleep" é dos filmes mais toscos, disparatados, surreais e tolos que já vi. Saí da sala algo desolada, até porque, neste meu acalorado desejo de apanhar a película antes que saísse de cartaz, arrastei o meu home para o cinema, e evidentemente que ele disse cobras e lagartos da "história".

No entanto, à medida que as horas iam passando e me recordava de pequenos pormenores do filme (cujas histórias, personagens, diálogos e tudo à volta, sublinho, são de uma incrível incoerência), não fui capaz de ignorar que tenho um certo carinho pela coisa.



Há quem tenha escrito que "The Science of Sleep" é um filme falhado, mas para assim ser era preciso que Gondry tivesse tentado fazer um filme, diz o meu home, ainda inconformado. Realmente, talvez não tenha tentado. Mas as sequências animadas, com bonecada feita à mão (?), muitos bichinhos e cenários entre o naïf e o absurdo, e uma outra cena de ternura incomensurável acabam por resgatar a experiência da minha "reclycle bin" mental. Ou muito me engano ou este ainda vai ser um daqueles filmes que sei ser mau, ou pelo menos longe de bom, mas do qual não consigo não gostar.



Quanto ao Gael. Meus amigos (e minhas amigas), escreveu o Jorge Mourinha no Y que o senhor estava, neste filme, «com o charme no máximo». E não podia ser mais verdade. Mas há quantos filmes é que ele já usa esse expediente? Hum? Assim de repente, não consigo apontar falhas aos visuais + carisma ostentados em "Motorcycle Diaries" ou mesmo "Má Educação". Qualquer dia há um grave derrame de charme nas nossas salas de cinema e depois quero ver. Eu avisei. Actor mai-lindo de sempre d'acordo com liisabel (como me chama a amiga Susaninha).



(anda com este fatinho bordeaux todo o santo filme)

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Esta noite na Química FM

... na oitava emissão do Boa Noite e um Queijo, as quimigals vão dar destaque ao vindouro Festival para Gente Sentada e falar com os Jesus The Misunderstood. Acompanhem-nos!...

Sobre o Science of Sleep

Ontem um camião fez o favor de se despenhar sobre o viaduto de Alcântara (*), interrompendo a circulação na linha de Cascais. Inocente em Paço de Arcos, fiquei uma hora à espera de um comboio que, diariamente, não se atrasa um segundo que seja. Parece-me que há alguém lá em cima que não quer que eu vá ver o novo filme do Gondry.



(*) - informação apurada junto de um dos empregados de balcão do cada vez mais obrigatório Café Martinez, de Algés.

Honras

Já terão reparado que, desde o passado Sábado, este blog anda todo ufano.

Ele é visitantes novos, uma fitinha a ornamentar o tasco no canto superior direito, comentários a torto e a direito e até uma verdadeira heroína que diz ter lido todo o meu blog (três anos de disparates), entre as duas e as cinco e meia da matina.

Não posso fazer outra coisa que não voltar a agradecer às gentes da Rádio Comercial. Jantar com amigos, num Sábado à noite, entrar no carro a seguir, ligar o rádio e ouvir o Manuel Cruz a cantar o «Ouvi Dizer» foi um momento lindíssimo (ainda por cima, dado o calibre de Fanáticos de Ornatos de 75% dos passageiros) e não acontece todos os dias. Muito e muito obrigada, diz este bicho de conta :)

(Para ouvirem a Vanda Miranda ler alguns dos textos do Sofá, basta seguir este link ou clicar na fitinha lá em cima).

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Hoje

Hoje vou ver o novo filme do Michael Gondry, o homem do "Eternal Sunshine". Relembro que essa fita andou aos trambolhões neste blog durante uns bons meses, e ainda hoje tenho aquela foto clássica, do casalinho deitado numa cama de ferro em plena praia, em pleno Inverno, a revestir uma caixa de sapatos com CDs lá dentro. Diz assim a lógica (ou a matemática?) que a fórmula Gondry + indiezada + Gael vai dar pano para mangas ao Sofá. Mas já li, aqui e acolá, que o filme é «falhado», cheio de boas ideias mal concretizadas, «apenas» bem intencionado, etc. Logo se vê (e o facto de já lhe estar a dedicar um post, sem ter visto um trailer que seja, deve querer dizer alguma coisa - quanto mais não seja, sobre a minha fraca higiene mental).



Entretanto, ontem comecei a ver o "Carne Viva", do Almodóvar. Aqui há uns dias toda a gente troçou daqueles que, como eu, nunca tinham pensado no realizador espanhol como homossexual. Tudo por causa de uma frase recente do senhor, que reza qualquer coisa como: «Toda a gente sabe que eu sou gay, mas a Penelope Cruz tem os melhores seios da Europa». Por acaso nunca pensei, ou deixei de pensar, no homem enquanto gay, straight, bi ou o que quer que seja, o que não deixa de ser uma negligência intelectual da minha parte. Com um universo tão sexual nas suas obras, já me devia ter deitado a pensar na vida íntima do Pedrito. Ou então não. Mas voltando ao filme, ocorre-me dizer que aquilo que mais me encanta nos filmes de Almodóvar é a sua feminilidade. Um pouco doentia, é certo, mas feminilidade. É como se todas as personagens e histórias de Almodóvar nascessem da imaginação de uma rapariguinha adolescente, trágica mas romântica. E fã de thrillers e livros policiais.

Também me é impossível não adorar a forma como retrata uma Espanha que podia ser um Portugal.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Celebridades da minha terra

O liceu onde andei, do sétimo ao 12º ano, tinha 3500 alunos e capacidade para pouco mais de mil. Dividido por pavilhões, anexos precários e casotas a cair, que deixavam entrar água quando chovia (e não precisava ser muita, a chuva), era ladeado por muita árvore (do mal o menos) e dava para a biblioteca municipal e o café "O Garfo", onde se reuniam os rufias do meu tempo.



Numa época bem mais segmentada socialmente do que a actual (ou pelo menos à distância assim me parece), havia os intemporais betos, os surfistas e bodyboarders, os metaleiros e os, cough, "normais". No ano em que o Kurt Cobain morreu, eu e as minhas amigas fizemos um reportagem (para um jornal que nunca chegou a ser publicado) sobre estes "grupos". Moviam-nos interesses pessoais, claro está, e ainda tenho as cassetes. Um dia ponho-me a ouvir.

Isto tudo para dizer que, inesperadamente, muito pessoal do meu liceu se tornou famoso! Um pequeno inventário:

- a jovem mulher do Pinto da Costa. Tinha uma irmã gémea e ambas gozavam de imensa popularidade junto da rapaziada de noventa e tal. Andava um ano à frente da minha turma.

- os gémeos modelos, Pedro e Ricardo (?) Guedes. Passávamos a vida a fazer pouco daquele par de betos, de cabelinho esticado pelo ombro, penteado à menina, e calças de ganga com cinto, bem subidas. Reza a lenda que foram "descobertos" na paragem do 84, em Santo Ovídio, onde eu vivia. Urge dizer que hoje, nas entrevistas, até me parecem rapazes simpáticos. Andavam um ano atrás da minha turma.

- a mulher do jogador portista e, mais tarde, boavisteiro Jorge Couto. Vencedora do galardão Miss Teenager (revista de miúdas da altura), magríssima e adepta, também, das calças de ganga "em altura". O futuro marido chegava a ir buscá-la de carro desportivo lá ao liceu.

- o actual MC Ex-Peão, dos hip-hoppers Dealema! À época, era um metaleiro de calças pretas e justinhas, com semblante carregado, que por motivos que ainda hoje desconheço costumava passear-se frente ao liceu, com o irmão pequenito. Vivia no mesmo bairro daquela que viria a ser mulher do Pinto da Costa e é, estou em crer, mais novo que eu. Não o teria reconhecido na sua encarnação rapper não fosse a minha amiga Barbara alertar-me para o facto (que, a princípio, recusei ser possível). Um metaleiro virado hip-hopper? Ah, se fosse no meu tempo...

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Aperaltem-se todos, vamos ter visitas!

Fontes seguras garantem-me que, no próximo Sábado, a boa gente da Rádio Comercial vai abrir as portas do programa O Meu Blog Dava um Programa de Rádio a este modesto Sofá. Possível momento histórico a caminho: será que, em três (!) anos de vida, o meu tasco vai receber em simultâneo mais de duas pessoas e meia? Aguardamos com ansiedade qualquer visita extra, e agradecemos já a amabilidade da ideia :)

Se calhar não era má ideia voltar a colocar a imagem do sofá e os links que perdi quando, sem querer (e sem perceber!), apaguei o template todo... Se houver tempo, ainda puxo o lustro à casa, até ao fim da semana.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Carinho

Hoje, no Café Martinez, em Algés, ouvi um empregado de balcão referir-se ao Salazar como «o Oliveirinha».

Queijinho fresco

Ontem houve mais uma emissão (a sétima!) do Boa Noite e um Queijo, na Química FM. Se quiserem / puderem ouvir, passem por aqui: o João Gonçalves é um santo (quase) e gravou-nos o programa. Saudações e agradecimentos das quimigals!

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Sapatinhos de ir aos figos

Tudo bem - no meu relativamente novo local de trabalho, as senhoras arranjam-se mais (e melhor?) que eu. Têm saltos sempre altos, botas bicudas (brrr... devem dar jeito para matar baratas), quinquilharia sortida ao pescoço e nos pulsos. Deixam nuvens aromáticas, possivelmente de perfumes caros, atrás de si, e o som troteante dos saltos a ecoar pelo corredor. Ainda assim, não há necessidade de certas coisas.

Na semana passada, marquei consulta para a médica do trabalho. À hora combinada, havia mais sete (!) mulheres à espera. Nenhuma com consulta marcada, todas com boas desculpas: «Eu é só medir a tensão...», «Eu é só verem-me os ouvidos...». Escusado será dizer que, das sete oponentes, três ou quatro me passaram à frente (umas quantas desistiram).

A senhora dos ouvidos gostava de meter conversa, mesmo com quem não lha dava (eu, portanto). Após uns bons 10 minutos de silêncio, retoma o "chat" com o enigmático:

«Sapatinho confortável, hein?»

isto enquanto olhava de soslaio para os sapatos que me deu a minha sogra há dois ou três Natais, e que eu tinha nos pés. Não são muito vistosos, é verdade. Não têm tacão... mas são, de facto, confortáveis, e resistentes. Têm uma cor que dá com tudo. E gosto deles.

«Siiim... estão um pouco estragados, mas são bons para andar», acabei por responder, acabrunhada.

( o trauma não foi suficiente para pensar comprar sapatos novos desde então )

Bruxaria

Nunca achei que fosse suficientemente importante para alguém me lançar um mau-olhado, mas começo a mudar de opinião (em relação ao eventual feitiço, não à minha importância).

Nas últimas semanas, uma sucessão aparentemente imparável de pequenos azares e incidentes, geralmente domésticos, tem-me posto a cabeça em água. Desde queimaduras que me deixam a mão à lá Freddie Krueger, a infecções urinárias que duram mais que o meu primeiro (e, por este andar, derradeiro) leitor de mp3, avariado na semana de estreia, o rol de desastres é demasiado fastidioso para os enunciar na íntegra.

O sexto sentido, que tal como a SR ali ao lado, tendo a confundir com paranóia, é que continua todo lá. Há bocado pensei: «Tanta desgracinha junta, ainda vai dar uma desgraça gigante, não tarda nada». E não é que, esta tarde, ia deitando a perder o trabalho de um mês e tal, de forma irreversível? Dêem-me férias.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

As Cidades

Tenho uma certa tendência para me apaixonar por cidades que visito em contexto mais ou menos lúdico. Ainda assim, umas apaixonam mais que outras. Londres e Nova Iorque (que conheci infimamente, mas conheci) são as mais recentes, mas há dez anos, ninguém me calava com Amesterdão. Hoje soube que a amiga que lá me levou a passar uma bela quinzena, nas férias de Verão, vai emigrar de vez. Boa viagem, Ana, que seja tudo pelo menos tão bom como em 1996.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Pedimos desculpa pela interrupção...

Sei que tenho votado este blog a relativo abandono, mas tem-me faltado o tempo (e alguma disposição, também) para escrever. Além de que, lá em casa, houve um bem sucedido golpe de estado, e agora quem manda é ela:



D. Shiva I

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